Desvio Padrão
Estamos muito acostumados nas pesquisas eleitorais a ver a "margem de erro". É o chamado desvio padrão. Podemos estimar a média de altura de homens com 30 anos de um bairro sem medir todas essas pessoas. Basta medir uma amostra significativa. Isso produziria dois números calculados:
- Média (1,75 m, por exemplo)
- Desvio Padrão (4 cm, por exemplo)
Isso significa que em torno de 95% das pessoas teria entre 1,67 e 1,83. Se, após 40 anos for feita a mesma medição e apontar média de 1,73 e desvio padrão de 3 cm, dizemos que não houve alteração pois está dentro da "margem de erro". Não é exatamente esse o termo, mas é útil para entender.
Vendo o gráfico abaixo (de um índice de Bolsa de Valores):
- a linha azul é o valor
- a linha laranja é a média das últimos 20 dias
- a banda laranja é a "margem de erro", chamada de Banda de Bollinger nesse caso
Continuando o gráfico de cima, imagine que se refere ao índice de criminalidade de um país.
Tempo 1: Imagine que a criminalidade nessa localidade é mais ou menos igual em todos os lugares. A partir da linha vertical "1" (ou tempo 1), metade dos municípios adota uma política de segurança.
Tempo 2: Vendo somente a média, no tempo 2, aparentaria que as cidades "verdes" apresentariam índices piores que nas cidades "vermelhas". Esse erro acontece por não se considerar o Desvio Padrão e por acreditar que tais políticas tem impacto imediato.
Tempo 3: Após um certo tempo, outro pesquisador analisa os dados logo antes e logo depois do tempo 3. Conclui que a criminalidade nas cidades "vermelhas" está caindo e que a criminalidade nas cidades "verdes" está subindo. Esse erro (além de desprezar o desvio padrão) acontece por desconsiderar que pequenas oscilações para baixo ou para cima não representam a tendência.
Tempo 4: Só a partir desse ponto, quando as "margens de erro" não se sobrepõe, podemos dizer que a medida adotada pelos municípios produziu uma diferença.
Nível de Evidência
No Brasil (principalmente na área da saúde), usamos uma estratificação de Nível de Evidência em 4 níveis:
- I: Conclusão obtida a partir de vários estudos experimentais controlados e randomizados
- II: Conclusão obtida a partir de um estudo experimental controlado e randomizado
- III: Conclusão obtida a partir de um estudo observacional
- IV: Conclusão a partir de opinião de especialistas
O nível I é o melhor e o nível IV é o menos confiável. A grosso modo, se duas conclusões opostas forem obtidas, a que tiver melhor nível de evidência prevalece. Porém, muitas vezes é impossível. Exemplo hipotético: delegados e agentes de inteligência acreditam que a legalização da maconha não alterará o tráfico de cocaína no Brasil. Como a maconha não foi legalizada, nenhum estudo pode ser feito no momento, o que significa que a melhor conclusão será nível IV.
Importância
Certamente, muitos de nós já ouviram frases como:
"Especialistas afirmam que reagir aumenta a chance de morrer."
"Depois que inventaram a pólvora, defesa pessoal não serve para nada."
"Na Inglaterra, ocorreu o desarmamento e a criminalidade é baixa."
Eu não digo que Krav Maga comprovadamente aumenta a chance de sucesso em caso de violência. Se dissesse isso, estaria cometendo o mesmo erro que denunciei. Porém, desconheço dados que levem a concluir o oposto.
Imaginem quantas pessoas deixaram de procurar uma arte marcial apenas pela disseminação de informação não comprovada quanto a inefetividade da defesa pessoal.
Conclusão
Muitas vezes nossas ações se baseiam em pressupostos falsos. Se houvesse uma área desmatada que devesse ser reflorestada, o que deveria ser feito? A maioria das pessoas pensaria em plantar mudas de árvore. Entretanto…
‘Plantar mudinhas’ está longe de ser a melhor maneira de reflorestar áreas desmatadas
Segundo pesquisadores, o jeito correto é deixar a natureza fazer o trabalho
[…]
O estudo mostrou que, no que diz respeito à recuperação da biodiversidade, a eficácia da regeneração natural foi de 34% a 56% superior à da restauração ativa.
[…]
Matéria da Gazeta do Povo.
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