Assim como no meio militar, na Igreja Católica e em várias outras instituições, nas escolas de Krav Maga existe a hierarquia. Isso significa que a ordem de cima é cumprida por toda cadeia. O general ordena o coronel, que ordena o major, que ordena o capitão e assim vai até chegar no soldado. Isso é muito bom para manter o espírito de unidade, os valores tradicionais e os objetivos de toda instituição. Alguém de cima, com uma visão estratégia, pode mobilizar suas tropas de maneira a cumprir o objetivo. O soldado que cuida das ferramentas da manutenção de uma aeronave não precisa ter noção de como a interrupção de uma linha inimiga de suprimentos a 2000 Km de distância pode proteger toda uma divisão de uma tropa estrangeira amiga.
O problema acontece quando o comandante é inseguro, fraco. Para demonstrar uma falsa segurança, ele pode querer centralizar todas as decisões. Geralmente, isso acontece mesmo sem conhecimento técnico daquela atividade. Voltando ao exemplo, é como se um oficial general fosse até a bancada de ferramentas do soldado e dissesse que as chaves de fenda tem que ficar do lado direito e os alicates do lado esquerdo. Nesse exemplo, bastava que ordenasse que tudo ficasse organizado.
Hoje em dia, existe uma outra forma de abordagem, a inteligência colaborativa.
O que é e para que serve a inteligência colaborativa?
Quem explica é Leticia Soberón, uma especialista no assunto
Sozinhos não chegamos a lugar nenhum. Um grupo de pessoas das
áreas de tecnologia, humanidades e empresarial começaram a trabalhar com a
chamada "inteligência coletiva”. Dela deriva a “inteligência
colaborativa”.[…]
Veja o que ela diz sobre a inteligência colaborativa nesta
entrevista:
O que é inteligência
colaborativa?
[…]
Em 1994, Pierre Lévy sonhou com a “inteligência coletiva”,
uma espécie de “supra córtex cerebral” da humanidade, formada por milhões de
indivíduos conectados e pensando juntos sobre temas importantes. O saber está
distribuído. Como ele mesmo destaca, “ninguém sabe tudo; todos sabem algo; é
necessário mobilizar as competências de todos”. Mas nem todo intercâmbio é
inteligente, nem a inteligência das equipes dependem somente da inteligência
individual de seus membros. Suas dinâmicas precisam ser inteligentes. É preciso
ouvir mutuamente, valorizar o que os outros dizem, concordar ou discordar,
expressar-se, criar novos focos, avançar juntos.
[…]
Por que precisamos
deste tipo de processo nas organizações?
A maioria das
organizações nasceu antes da internet e trabalha com departamentos ilhados.
Elas possuem estruturas rígidas e formais e, inclusive, seus suportes
tecnológicos estão desenhados para perpetuar estas ilhas e para uma comunicação
pulverizada; em outras palavras, para uma sociedade que já não existe. Se não
quisermos ficar obsoletos em pouco tempo, temos de gerenciar novas formas de
trabalhar, muito mais colaborativas e em rede.[…]
O Krav Maga pode se beneficiar
disso também. Numa utopia, o Krav Maga seria como o judo, com uma confederação
internacional, todas mantendo a essência dessa arte. Nela estariam todos os
representantes mundiais do Krav Maga, incluindo os representantes das escolas
brasileiras.
Isso só não acontece por vaidade.
Todos se intitulam os legítimos representantes do Krav Maga. Em outros setores,
isso não acontece. Basta ver como as diversas experiências são tratadas em
outras áreas. Imagine se num congresso médico, os representantes de um hospital
fossem apresentar uma nova proposta de tratamento para câncer com taxas de
sucesso um pouco maiores que as mais antigas e os outros médicos dissessem “Ih!
Que besteira! Não foi assim que Hipócrates inventou a medicina!” ou “Isso não é
medicina, isso é engenharia civil!”.
Nessa utopia, os diversos
representantes trariam casos reais de defesa pessoal, além das experiências de
outras artes marciais. Mantendo a essência, novas camadas de conhecimento
seriam colocadas. Todos os setores de sucesso são assim. Além da medicina
citada, todas as áreas científicas (como as engenharias) também são assim.
Mesmo a tecnologia militar funciona assim. Adaptações e projetos são
desenvolvidos com o retroalimentação (feedback) do usuário, ou seja, do combatente.
Num pensamento menos utópico,
dentro de uma escola, o aluno deve cobrar o seu professor a ter esse
posicionamento: incorporar novos conhecimentos ao tradicional para refinamento
e preparar para enfrentar novas ameaças (como no exemplo
que eu dei do ataque com moto-serra).
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