O problema é que, hoje em dia, as "doenças psiquiátricas" são usadas para justificar muita coisa. Esse tipo de doença existe e predispõe o sujeito a violência. Mas muitas vezes a doença não tira do doente a capacidade de julgamento. Muito simples: imagine-se que algumas situações são realmente culpadas por alguns crimes. Por exemplo, uma esquizofrenia grave leva o sujeito a cometer um assassinato. Ou então a pobreza extrema leva o sujeito a roubar para alimentar a família. Pobreza, gravidade de uma doença ou o ambiente em que um sujeito foi criado são, na melhor das hipóteses, "Grandezas Contínuas" (por exemplo, numa escala de pobreza, o sujeito pode ir descendo gradualmente). Na hipótese mais realista, são fatores de avaliação subjetivas (são estimados, não medidos).
Imagine um repórter dizendo que um sujeito específico furtou (sem violência) uma carteira e, em seguida, perguntando à população se o entrevistado achava que o ladrão deveria ser preso. Alguns responderiam que em todas as situações o sujeito deveria ser punido. Outros diriam que em todas as situações o criminoso deveria ser perdoado. Mas 95% da população diria que em algumas situações, o sujeito é tão pobre que justifique o furto e em outras, o sujeito tem o suficiente para não justificar o crime.
Então veja o seguinte gráfico hipotético. Nele, três situações distintas ao longo do tempo:
Nesse gráfico, o número de furtos cometidos distribuídos conforme a situação financeira do ladrão.
Em azul, os crimes cometidos por pessoas tão pobres que só os 2,5% radicais acreditam que devessem ser punidos. Em vermelho, os crimes cometidos por pessoas em situação financeira mais tranquila. Só os outros 2,5% radicais do outro lado acham que essas pessoas deveria ser deixadas impunes.
Em cinza ("zona cinzenta") sob uma banda verde, furtos cometidos por pessoas que a população se divide entre os que o consideram escusável (perdoável) e os que o consideram puníveis. "Será que o sujeito é tão pobre que justifique o furto que ele cometeu? Eu acho que sim, mas meu irmão acha que não.".
Essa banda verde pode ser chamada de "Janela de Overton" e representa os limites de pensamento aceitáveis para 95% da população. Por exemplo, se alguém propuser que deva ser preso o sujeito que furtou uma carteira porque o filho estava faminto, soará absurdo para a maioria das pessoas (95% dentro da janela de Overton). Do outro lado, se alguém disser que um sujeito que tem um telefone celular de última geração, anda com vários cordões de ouro pendurados no pescoço e só usa roupas caras deve ter o crime perdoado porque o cometeu por necessidade, soará absurdo para esses mesmos 95%.
O problema é que a linha de corte onde a situação financeira (ou doença mental ou ambiente em que foi criado) justifica o crime é definida arbitrariamente. E vemos uma constante pressão para que as duas bordas da janela de Overton progridam para a mesma direção.
Com isso, é esperado que o número de punições diminua, pois:
- aquele sujeito que estava numa zona cinza, passou a ser azul e sua condenação por um juiz parecerá um absurdo às pessoas;
- aquele sujeito que estava numa zona vermelha (sua absolvição por um juiz era vista como absurdo) passou para a zona cinza e agora sua absolvição passou a ser um assunto de debate.
Por último, hoje, em geral, a janela não é desviada de maneira constante. A tolerância de opinião primeiro é ampliada em uma direção (nesse caso, com deslocamento da borda direita) e depois contraída na mesma direção (nesse caso, com deslocamento da borda esquerda).
Continua amanhã.
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